08 abril 2008

POETA
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ouvimos o poeta falar no peso exacto de cada palavra e não sabemos a que se refere. a diferença de um grama, por exemplo - é muito? é pouco? inultrapassável? dispiscienda?
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PERSISTÊNCIA
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antevemos que toda a persistência será, um dia, tornada inútil. persistir em ignorá-lo dá, consoante o ponto de vista, a medida da nossa coragem ou da nossa loucura.

28 março 2008

TUDO E NADA
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quase nada é tudo. disseram-me, porém, que um antigo sábio afirmou também o contrário.
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INDIZÍVEL
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se aceitarmos que existem palavras indizíveis, teremos que admitir que falta algo para as podermos dizer: sons, letras ou ideias. diverso será, aceitemos novamente, se o indizível dispensar a palavra para ser dito. nesse caso trata-se de algo que sabemos o que é, mas não podemos nomear.
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27 março 2008

NANO
desconhece-se ainda o significado real desta palavra. na realidade, é difícil lidar com uma palavra cujo tamanho diminui constantemente.
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ESTRADA
não é a sua direcção que lhe dá sentido. é, sim, o facto de a podermos abandonar e trocar por outra.
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19 novembro 2007

Era uma vez...

Tem razão o arq. José Veloso no Canallagos Jornal On-Line. A verdade, a dolorosa e infeliz verdade, é que os intérpretes da destruição continuam a ganhar eleições e isso, de certa forma, desresponsabiliza-os. A culpa, como de costume, é da cegueira colectiva, logo, não é de ninguém.
BICICLETA

é belo o mundo visto assim, com o vento a bater-lhe na cara ( e a velocidade a separar-me do chão ).

DIA
sucede à noite e extingue-se com ela. mas repara melhor: dir-se-ia uma península singular, rodeada de noite por todos os lados excepto pelo lado do sol.

15 novembro 2007

SOLIDÃO

é quando até tu falhas na companhia que fazes a ti próprio.


DESTINO

aceite-se o recurso ao lugar comum e veja-se a vida como um livro.
- já escrito. – afirmam os que crêem na irreversibilidade do destino.
- em branco. – contrapõem outros.
tranquilizem-se, porém, os primeiros: o livro em branco nunca existiu.
folheiem-se, uma a uma, as suas páginas nuas e busque-se com atenção. algures, numa
folha mais inicial ou adiantada, lá está ela, claramente escrita. a palavra fim.

14 novembro 2007

AS COISAS

As coisas, se não fossem como são, seriam de outra forma. seriam de forma a que alguém dissesse: as coisas, meu amigo, são como são.


OCEANO

é uma confluência de sonhos e de sais. e de águas, também.

13 novembro 2007

BARCO

um homem disse: vou fazer um objecto mais pesado do que a água para atravessar este rio. os outros riram-se dele.
o homem não os ouviu porque, na sua cabeça, já viajava.

RIO

vou deitar-me neste leito – asseverou a água – para continuar a correr.

08 novembro 2007

MEMÓRIA

tal como nos computadores, é importante que possa ser apagada. um homem com a memória cheia tem um desempenho muito lento e tende a funcionar mal ou a não funcionar sequer. upgrades de memória externa recomendam-se. bibliotecas, por exemplo.



COLAR

a nudez dessa coluna de carne que se situa entre o tronco e a cabeça sempre incomodou as pessoas. de todas as coisas com que a vestiram – gravatas, laços, folhos, colarinhos, lenços, etc. – o colar é a mais delicada. um colar fino, muito simples, quase invisível; um fio, apenas.

05 novembro 2007

SETA

sabe bem que nada é eterno, nem sequer o seu voo. já o alvo, muitas vezes, não o sabe.


ESCRITA

um homem junta letras, sons e sentidos, e escreve-os, para que venha outro homem e os ordene outra vez, de forma exacta ou aproximadamente igual. isto repete-se até vir um homem que diga os mesmos sons e entenda o oposto do pensaram os outros. a escrita serve para isso.

31 outubro 2007

ABELHA

tem, como missão fundamental, levar uma flor a outra flor. comparado com isso o mel é apenas uma prenda, uma espécie de rebuçado, um doce.


GOLFINHO

desconhece-se qual a maior nostalgia: se a do homem olhando o golfinho, se a do golfinho olhando o homem.

30 outubro 2007

MÚSICA

no início não passava de uma tentativa de roubar a alma aos pássaros. só depois ( muito depois? ) alguém reparou que revelava a alma dos homens.


PALAVRA

é uma ideia rodeada de sons. outras vezes – como em palavreado – os mesmos sons rodeiam a falta de ideias.

29 outubro 2007

SILÊNCIO

o silêncio, disse o conferencista, é o nome que damos aos sons inaudíveis. um silêncio, senhores, não é igual a outro. Existem silêncios simples e outros mais complexos, muito complexos, verdadeiras sinfonias de silêncios, partituras impossíveis de ler ou escrever, obras e execuções irrepetíveis.
a plateia, não sabendo como aplaudir, optou pelo silêncio e retirou-se sem fazer barulho. na verdade, mais tarde, quando perguntados, ninguém sabia dizer qual o momento mais importante da conferência – se a fase em que o conferencista falou, se a outra em que se calou.


VAGA

é como se um monge zen tivesse inventado esta palavra. abram-se os dicionários:
-elevação de grande porte ( formada nos mares, lagos, rios, etc.).
-grande quantidade de… ( pessoas, animais, veículos, etc.).
-espaço que não se encontra ocupado.
-falta, ausência carência.
-que vagueia.
não falo pelo leitor mas, para mim, faz sentido: uma elevação de grande porte ou grande quantidade de alguma coisa, cujo espaço não se encontra ocupado, e onde existe uma falta, ou uma ausência, ou uma carência, que vagueia.

12 outubro 2007

UM ESCULTOR PARA O FIM DE SEMANA



Joana Vasconcelos é uma das criadoras que mais rapidamente se distinguiu no panorama artístico actual. Recorrendo à acumulação e repetição de objectos de consumo corrente, reorganizando no âmago do seu trabalho aquilo a que chama "a estética de supermercado", Joana Vasconcelos surpreende a cada novo trabalho, sendo disso exemplo obras como "A noiva" - um lustre executado com tampões higiénicos e aço inox - ou o sapato realizado com tachos e tampas de panelas, etc. Destaca-se ainda na sua obra o recurso ao croché envolvendo objectos decorativos comuns, criando uma associação que resulta paradoxal entre um certo "ar" antigo e datado e o resultado de conjunto, absolutamante contemporâneo.

10 outubro 2007

ESPANTA-ESPÍRITOS

denominação normalmente associada a um objecto de funcionalidade não comprovada. deveria, obrigatoriamente, designar algumas fórmulas matemáticas, determinados livros, certas obras de arte.

PEDRA

é possível afirmar-se, correndo o risco de incorrecção apenas parcial, que a sua robustez, coesão, ancestralidade, perenidade, etc., estão intimamente ligados à sua incapacidade para gerar ideias. pode também afirmar-se que todas as características acima mencionadas são habitualmente invejadas pelo homem comum.
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Interrogações, definições, confirmações, confissões e exclamações de uma borboleta em Pequim

09 outubro 2007

ESTRANGEIRO

não tomes o que trazes como definitivo – ou não deixarás de ser estrangeiro.


PEIXES

existem com muitas formas, tamanhos e cores. existem de profundidade e de superfície. existem como predadores, como predados e como predadores-predados. todos cumprem, independentemente das diferenças entre si, a sua função principal: dar à água uma solidez que tenha corpo.

08 outubro 2007

FAÍSCA

a noite que nos antecede é menor do que a que nos sucede, excepto se o universo tiver atingido já metade da sua existência. O conhecimento deste facto serve apenas para tentar situar o momento da faísca que fomos.

AREIA

é constituída por grãos. um punhado contém uma infinitude de grãos. um deserto contém uma infinitude ainda maior de punhados. no entanto, nenhum grão desejaria ser outro.

04 outubro 2007

FOGO

homem e fogo conhecem-se, pode dizer-se, desde a noite do tempos. mas ainda não decidiram quando são amigos e quando são inimigos.


FUMO

invejável, a sua inconstância. Quase tão invejável quanto pode ser preocupante a sua constância.

03 outubro 2007

CALOR E FRIO

o frio não se dirige para o calor com o objectivo de se apossar dele. é, antes, o calor que penetra o frio pretendendo anulá-lo. dito assim: é necessário o suicídio de muitos grãos de calor para aquecer o frio.

AMOR

fala-se de tudo quando se trata de descrever o amor. é por isso que não vale a pena falar do amor. a melhor coisa que o amor tem não é poder ser tudo. é ser indescritível.

02 outubro 2007

John Pizzarelli Trio - O, My Heart Beats For You

John Pizzarelli, lui même, explica aqui e ao vivo algumas das razões pelas quais me sinto cada vez mais "pizzarelliano". Oiçam:

Don't get around much anymore - John Pizzarelli

01 outubro 2007

DEUS

sabemos que existem ligações entre as coisas. e sabemos, também, que nada pode ser absoluto sem contemplar todas essas ligações.


PELE

é um isolante. impede que sintamos a água, o vento, o sal sobre a carne crua. impede que nos desfaçamos, escorrendo para dentro das coisas. quando duas peles se tocam impedem os corpos de se fundirem um com o outro. ainda que se aproximem disso.

28 setembro 2007

um escultor para o fim de semana


Encontrei este fotógrafo aqui, no sem-se-ver , e pensei que se tratava de um escultor. Depois, vendo bem as fotografias, observando os processos que Chema Madoz utiliza para executar alguns dos objectos que fotografa, analisando a forma como utiliza objectos tridimensionais para construir as suas imagens e a sua poética, concluí que o autor pensa como um escultor ou que, pelo menos, utiliza técnicas ligadas à escultura para atingir os seus desígnios. É, perdoe-me o próprio, como um escultor que se interessasse mais pelo resultado bidimensional das suas esculturas do que pelas peças em si mesmas. Com óptimos resultados, diga-se.

27 setembro 2007

ENTARDECER

é um momento, uma pausa, uma preparação para que as coisas diurnas entrem no mundo das coisas nocturnas. dito de outra forma: é um compasso para que não sobrem pedaços de dia isolados dentro da noite.


CAMINHO

ignoramos se fazemos o nosso caminho no mundo, se o mundo faz o seu caminho em nós, se ambas as hipóteses se misturam, se estão igualmente certas ou erradas. mas algo sabemos, por certo: é quando estamos parados e fechamos os olhos que melhor nos vemos caminhando.
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Interrogações, definições, confirmações, confissões e exclamações de uma borboleta em Pequim (versão de bolso)

26 setembro 2007

ARTE

procura uma inutilidade que seja mais preciosa do que outra. arte é como se chama o resultado desse trabalho.

ÁRVORE
faltava um lugar adequado para o chilreio dos pássaros. inventaram-se, então, as árvores. por causa das aves e por causa da vida, que precisava de se afirmar, também, como força imóvel e vertical.

25 setembro 2007

Interrogações, definições, confirmações, confissões e exclamações de uma borboleta em Pequim, começa hoje a publicar-se no Afinador. Aqui vão as primeiras:

COR

não existe sem luz. daí poder afirmar-se que cada tom é uma inspiração luminosa.

VIAGEM

as melhores acontecem se o espírito acompanha o corpo. o contrário, sendo frequente, não basta para explicar por que razão nos deparamos com tantos corpos faltos de espírito.

21 setembro 2007

um escultor para o fim de semana

LOUISE BOURGEOIS


"My childhood never lost its magic, never lost its mystery, and never lost its drama."


Nascida em 1911, Louise Bourgeois, passeou-se pelo surrealismo, pelo expressionismo abstracto, pelo minimalismo, pelo realismo e pela arte conceptual. Continua viva e a Tate prepara uma exposição retrospectiva que inaugura já em outubro.
Vejam o vídeo intitulado "Touch of Jane Addams" no link que se segue. Uma lição em pouco mais de meio minuto:
Art:21 . Season One . 3: Identity PBS
( Já agora, aproveitem e visitem o site. São muitos escultores para um só fim-de-semana, mas valem a pena.)

20 setembro 2007

Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz - o fim

Começou a ser publicado no dia 20 de Setembro de 2006. Encerra hoje, exactamente um ano depois. Aqui vão os últimos pensamentos do Sr. Anacleto:

CXVII

É difícil fazer compreender ao pássaro que a profundidade é a altitude ao contrário. Excepto, talvez, se for toupeira a explicar-lhe.


CXVIII

Rodeia-te de ouro que não apresente peso nem forma. Transporta-se mais facilmente.


CXIX

Há, aqui, coisas que são pérolas. Mas o que são pérolas, nos dias de hoje?


CXX

Não acredites em tudo o que leste.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

18 setembro 2007

CXV

Todas as desculpas servem para um homem se manter vivo. Excepto, comprovadamente, a última.


CXVI

Domina o cometa como se pegasses um touro. Fá-lo rabejar.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

17 setembro 2007

CXIII

Caminha sobre as águas. Não pares de andar, dentro do barco.



CXIV

Nada é mais teu do que o chão que pisas. Pelo menos enquanto o pisas…

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

14 setembro 2007

CXI

Lastima-te, mas não desanimes. Persevera nalguma coisa: lastima-te.


CXII

Alimenta-te de ti mesmo. Rói-te de inveja.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

13 setembro 2007

O "Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz" aproxima-se do fim. Sairão dois por dia, até à sua conclusão.

CIX

O sol continua atrás das nuvens. Acorda-me, quando estiver à frente.


CX

Quem dança por gosto não descansa.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

12 setembro 2007

Amazing Hand Shadow show by Raymond Crowe


Um divertimento para anunciar o regresso do Afinador, quase dois meses depois...

13 julho 2007

Mais uma...

...a contribuir para o clima persecutório que se sente por todo o lado. Este blog ( InApto ) foi processado.
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( O Afinador de Sinos bem gostaria de prosseguir com um ritmo mais lento de postagens mas este tipo de coisas obriga a uma atenção furiosa. Ai portugal, portugal, continuam a tratar-te tão mal...
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12 julho 2007

XANA - "O Falso Diário de A.B."


A inauguração da nova exposição de Xana, intitulada "O Falso Diário de A.B.", realiza-se na próxima sexta-feira, dia 13 de Julho, pelas 18.00 h. na Sala do Cinzeiro do Museu da Electricidade (Central Tejo, Av. Brasilia, 1300 LISBOA)



Nesta exposição, Xana apresenta obras inéditas realizadas em 2007 que são o desenvolvimento das suas pesquisas com pinturas digitais cinéticas apresentadas na sua exposição antológica, realizada na Culturgest em 2005.
"O Falso Díario de A. B. " é o titulo enigmático do conjunto de obras apresentados agora na Central Tejo - numa instalação que conjuga o vídeo, o desenho e a escultura.
O núcleo central da exposição é um conjunto de cinco vídeos realizados em Madrid, Lisboa e Lagos, locais em que o artista filmou algumas vivências quotidianas, como uma visita a um Museu, a permanência numa discoteca ou um passeio urbano. Esses vídeos foram montados e sujeitos à intervenção de desenhos digitais ou frases/legendas que se sobrepõem às imagens iniciais criando uma narrativa ficcional de múltiplas leituras.
Esta instalação de vídeos é contextualizada pela presença de uma escultura cenográfica constituída por 720 baldes de plástico vermelho, intitulada ironicamente de "Muro de Lisboa" e enquadra-se no seguimento de outras obras realizadas pelo artista, desde 1989, com objectos industriais. Apesar da efemeridade e do caracter eminentemente estético desta construção, é obvia a referência conceptual deste muro com o mítico "The Wall", tema dos Pink Floyd, com o Muro de Berlim ou com tantos outros muros que separam as comunidades em conflito, como o actual muro entre Israel e a Cisjordânia.
Como afirma João Pinharanda, comissário da exposição, "o que acontece nas experiências que agora se apresentam pela primeira vez, ... revela a faceta crítica, complementar da obra de Xana. Sobrepondo realidades diversas (pequenos filmes, fotos, desenhos, curtas animações, frases marcantes) Xana prolonga experiências fotográficas de 2003 e parece proceder à depuração de um conjunto de vastas colagens (de 1985, série "Raspar as palavras") onde acumulava tematicamente imagens de políticos e factos históricos, alimentos, paisagens, artistas e obras de arte… mantendo um espírito de registo documental e comentário crítico e cruzando-o com testemunhos de subjectividade imediata. Assim constituiu um arquivo de olhares banais sobre coisas banais, de momentos de alegria fútil nos convívios sem história entre amigos ou de voyeurismos sem consequências. Um arquivo de imagens nauseantes da sociedade de consumo, paisagens devastadas pela urbanização, paródias à massificação da cultura...

A intervenção dos seus desenhos nas imagens filmadas e nas fotos mantém o marcante carácter de surpresa e contradição cromática e formal, humor e desestabilização. Do mesmo modo, certas frases (com efeito semelhante às que usara nos anos 80 em pequenas colagens de jornal) regressam como legendas finais constituindo comentários que integram inteligência verbal e inteligência visual — formas e ideias sobre a felicidade e a nostalgia, a perdição e a salvação do mundo. Xana torna artístico o que o não é e altera o estatuto das imagens que o são – manipulando todos os dados disponíveis de um modo aparentemente narrativo provoca sucessivos incidentes."
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CVII

É certo que o homem é omnívoro e o leão carnívoro. Já quanto à maçã ser vegetariana…


CVIII

É fácil falar mal de alguém. Difícil é falar mal de alguém e fazê-lo bem.

Do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

06 julho 2007

Antes que esgote...

Hoje, na primeira página do Inimigo Público, um excusivo mundial:

IBUFO
revoluciona a vida a chibos socialistas
"Um sistema intuitivo para QI básicos que permite a qualquer grunho
um fácil chibar na ponta dos dedos"
*
O Afinador diria que revoluciona a vida a chibos e acrescentaria um ponto final. Isto porque chibo é chibo, ponto final, até mesmo quando alega que os exemplos chegam de cima. E aproveita, o Afinador, para fazer uma recomendação: despache-se o leitor interessado e adquira já o seu. Antes que esgote...
*
P.S. - A oficina do Afinador de Sinos continuará a laborar, nos tempos mais próximos, em velocidade moderada.

03 julho 2007

Calor...

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Com a chegada do calor, o Afinador de Sinos vai mudar de ritmo. Não se trata de férias. Apenas de menor regularidade aqui, nestes ares blogosféricos. Mas haverá postagens. De vez em quando, ao calhar... Carpe Diem.

30 junho 2007

Um escultor para o fim de semana

kenneth Snelson

Esta torre permanece na minha cabeça desde que vi, pela primeira vez, uma fotografia sua. Sobre o seu autor existe informação aqui, sobre esta peça e sobre o local onde ela se encontra - Hirshhorn Museum and Sculpture Garden - pode procurar-se aqui. A fotografia que tanto me surpreendeu e chamou a atenção para esta construção está aqui. Não a consegui publicar, mas aconselho-a vivamente. É através dela que se vê claramente a incrível engenharia que permitiu a construção desta peça escultórica.

28 junho 2007

A CASA DO HORROR (V)

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Um país em guerra. Um soldado estrangeiro sobe um muro alto e espreita para dentro de um quintal. Vê corpos inanimados espalhados pelo chão. Alguns mexem-se. Ouve gemidos. O grupo de soldados invade o edifício e percebe que se encontra num orfanato para crianças com necessidades especiais. Descobrem orfãos subnutridos por todo o lado. Não são alimentados há cerca de um mês. Há crianças tão fracas que não conseguem falar ou chorar. Na cozinha os guardas jogam às cartas enquanto cozinham uma abundante refeição apenas para si próprios. Uma busca à despensa revela fardos de roupa e caixas de comida prontas para serem traficadas e vendidas no mercado negro. Apesar de transportadas para um hospital e alimentadas, algumas crianças já não recuperam e morrem após o resgate. A ficção não faz parte desta história.
*
Para ver aqui, ou aqui,
etc.

O prometido é devido...

mas o YouTube não parece querer colaborar. A Rosa de Hiroxima está aqui. Secos & Molhados no seu melhor.

Secos e Molhados Muito

A canção é repetida, mas o vídeo é delicioso. Estava-se em 1973!

26 junho 2007



CV

As montanhas aumentam de tamanho à medida que nos aproximamos delas. É uma mania antiga, que fazem questão de manter.


CVI

Partindo do seu ponto de vista, é injusto que queiras exterminar a injustiça.


do Caderno de pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

25 junho 2007

COLECÇÃO BERARDO NO CCB

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O homem será polémico e desencadeia reacções de todo o tipo na sociedade portuguesa. Poucos morrerão de amores por ele, e outros são atacados por súbita comichão assim que ouvem a palavra Joe. Há, no entanto, um ponto que parece consensual: reuniu uma das colecções mais importantes, a nível mundial, sobre a arte do século XX.


A telenovela é conhecida: Berardo propunha, os governos diziam sim, mas..., Berardo ameaçava com a deslocalização, os governos diziam mas, mas..., falou-se no Pavilhão de Portugal, no Museu do Chiado, num museu construído de raiz, em França, pelo governo francês, no Japão, pois, pois..., mas, mas..., contamos com o patriotismo do senhor..., anos a fio.


A colecção abre hoje ao público no Centro Cultural de Belém -complementada por obras de outros museus nacionais e estrangeiros- por um período (mínimo) de dez anos. Isso é mais importante do que todo o nevoeiro lançado em volta do assunto. Para mim, em última análise, a colecção é mais importante do que Joe Berardo. Goste-se ou não da ideia.
*
Mas, sendo as coisas como são, é difícil achar bela sem senão; se Lisboa (e Portugal) ganha uma "bandeira cultural", perde, por outro lado, um espaço priveligiado para grandes exposições de autor e outras de grande circulação internacional. Reivindique-se um espaço assim e a colecção Berardo terá funcionado duplamente.

22 junho 2007

UM ESCULTOR PARA O FIM DE SEMANA

RICHARD SERRA


Na imensa obra de Richard Serra destacam-se estas gigantescas Torqued ellipses e Snake que fazem parte da colecção permanente do Museu Guggenheim de Bilbao. A primeira impressão com que o observador se depara é a escala monumental do conjunto e a sua adequação ao espaço envolvente. Tudo é enorme, excepto os observadores. Percorrê-las, entrar nelas, cumprir os seus trajectos sinuosos, por vezes quase claustrofóbicos, percurtir o metal com os nós dos dedos, notar o ar de espanto e de deslumbramento dos outros visitantes, constituem experiências inabituais. Terminada a visita e abandonada a sala, outra surpresa aguarda os passeantes; uma pequena varanda, num piso superior, de onde se tem uma visão do conjunto e das pessoas que circulam fora e dentro das esculturas (conferir imagem superior). Belo, impressionante e inesquecível.

20 junho 2007

O Jardim - Fabíola Aquino

Roubei este vídeo no http://prazer_inculto.blogspot.com . Possidónio Cachapa comenta, laconicamente, que sente saudades do Brasil. Percebe-se porquê.

Eutanásia, aborto, legalização e objecção de consciência...
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39% dos médicos oncologistas portugueses defende a legalização da eutanásia como questão ética. Por outro lado, o número de médicos objectores de consciência em relação à interrupção voluntária da gravidez tem aumentado, atingindo os 80% em alguns hospitais públicos. Ocorre-me perguntar o seguinte: de um ponto de vista civilizacional, que significam estes movimentos aparentemente contraditórios? É, ou não, verdade que, em ambos os casos, a vontade consciente do "paciente" é parte importante da decisão final? Até que ponto? Quanto vale a vontade do paciente? E a do médico? Em que momento a morte assistida deixa de se confundir com suicídio assistido? Podem, em qualquer dos casos, os objectores de consciência atingir os 80%? Nesse caso, que soluções oferece o estado ao paciente para que o seu direito prevaleça?

19 junho 2007

exercícios de lógica

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José Mourinho empurrou Shevchenko para perto da porta de saída do Chelsea, segundo alguns analistas, com esta declaração assaz reveladora: Se querem saber se o Shevchenko voltará algum dia ao Milan, não lhe perguntem a ele, mas a Kristen, sua mulher. Em minha casa mando eu, enquanto no caso do André, se a mulher levanta a voz, ele vai esconder-se debaixo da cama com o rabo entre as pernas.
Ficamos, com esta curta declaração, a saber uma enorme quantidade de coisas:
1- Shevchenko tem mulher, rabo, pernas e uma cama onde se esconder debaixo.
2- A mulher de Shevchenko chama-se Kirsten e sabe algumas coisas, pelo menos o caminho para Milão.
3- Mourinho tem casa e manda nela.
4- Mourinho tem mulher e ela não manda nada em casa.
5- A mulher de Mourinho não levanta a voz ou, se levanta, baixa-a de novo, por não lhe adiantar ter voz.
6- Mourinho, ou não tem medo da voz da mulher, ou tem uma cama demasiado baixa e não cabe sob ela, ou não tem pernas ( o que não é manifestamente verdade, já as vi na televisão ) ou não tem rabo (que nunca vi, nem na tv).
7- A confirmar-se a última hipótese, a tradicional sabedoria do povo português deslinda o caso através de um pequeno ditado - quem tem cu, tem medo. Logo, quem não tem um, não tem outro.
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Mas resta uma pergunta ( ou duas )
- Mourinho não tem medo por não ter rabo, ou não tem rabo por não ter medo?

18 junho 2007

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Hilaria. Fantástico. Volta sempre.

( Merda. Esqueci-me outra vez da máquina fotográfica.)
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15 junho 2007


CIII

Devolve-me todas as palavras. Não tas dei para que fizesses mau uso delas.


CIV

Mantém-te bem intencionado. É com boas intenções que muitos se tornam cabrões.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

14 junho 2007

QUANDO POSSÍVEL E IMPOSSÍVEL SE CONFUNDEM

Katie Melua duets with Eva Cassidy

13 junho 2007

A CASA DO HORROR (IV)

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O horror, quando nos confrontamos com ele, não se traduz obrigatóriamente em morte, sangue ou violência física. O horror não se relativiza dizendo ah, aconteceu no terceiro mundo, isso, lá, é normal, nem afimando o contrário ah, eles preocupam-se com um indivíduo, quando isso, aqui, acontece todos os dias. É considerando esse aspecto que se faz a seguinte precisão: O caso verídico que hoje se narra não ocorreu num país onde a justiça é tida como algo que não funciona, bem pelo contrário.
Um homem inocente foi esquecido numa prisão por uma juíza. Teria bastado uma assinatura sua para que a libertação do detido se consumasse. Passaram 437 dias até que o erro fosse finalmente reparado.
Todo o horror a que o homem foi sujeito, todas as angústias, todas as perguntas que se terá feito, todos os suores, todas as consequências, todo o desespero, a troco de um esquecimento. De uma assinatura.

12 junho 2007

HILARIA KRAMER

.Hilaria Kramer
"Jazzin' Brasil e Superguru
na Villa Cicogna Mozzoni"
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Tem sido apanágio do Afinador de Sinos manter uma certa reserva verbal em relação aos acontecimentos de que dá notícia. Dito de outra forma: o Afinador procura não ser um clube de amigos, tu cá, tu lá, palmadinhas nas costas e miradinhas elogiosas em relação ao umbigo de cada um. Mas há semanas assim, em que os amigos resolvem aparecer de uma só vez, vindo mostrar-nos o seu trabalho. Depois do post anterior ( Paulo Neves ) eis a minha amiga Hilaria Kramer, com quem tive o prazer de colaborar em Zappatronix e Superguru, de regresso a Portugal para dois concertos com a BB-Band, em Almada ( Convento dos Capuchos, 15 de Junho ) e Lagoa ( Sítio das Fontes, 16 de Junho ). A Hilaria, digo eu que sou suspeito, é uma força da natureza e colaborou, entre muitos, com Steve Lacy e Chet Baker ( ver Bio ).

Paralelamente, e como resposta a este Bom Princípio, recebi do Luigi Abbondanza o seguinte comentário: perfetto. esact&qual quello ke intendevo. adesso devi finirlo cazzo!

A ideia da comissão de idoneidade existencial partiu do Luigi, que me sugeriu que escrevesse uma peça de teatro em torno deste tema, para a nossa Companhia de Teatro Cadeia Velha. O princípio já está, falta o resto. Ma ferma i cavalli, Luigi, que é uma expressão que, se existisse em italiano, quereria dizer, aguenta lá os cavalos, amico mio, começar e terminar não são exactamente a mesma coisa.

11 junho 2007

Um escultor para esta semana

PAULO NEVES



Por absoluta de falta de tempo não fiz no último sábado o post que tinha planeado para a rubrica Um escultor para o fim de semana. Era a propósito de um convite que recebi do Paulo Neves para a inauguração da sua exposição actualmente a decorrer na Galeria Municipal de Matosinhos. Paulo Neves é um dos maiores e mais profícuos escultores portugueses, autor de uma obra pública e privada absolutamente notáveis, com grande representação internacional. Horários e calendário da exposição devem ser pedidos para a referida galeria. Eu, não me deslocando brevemente a Matosinhos (ou a Cucujães, onde trabalha), envio um abraço ao Paulo e desejo-lhe boa sorte. E que continue o seu caminho, naturalmente.

sons da fala

Ontem ( Domingo ) à noite, na Fortaleza de Sagres, Sons da Fala, um projecto que integra todos estes nomes
Sérgio Godinho (Portugal)
Vitorino (Portugal)
Janita Salomé (Portugal)
Tito Paris (Cabo Verde)
Nancy Vieira (Cabo Verde)
Filipe Mukenga (Angola)
Juca (São Tomé e Príncipe)
Guto Pires (Guiné Bissau
André Cabaço (Moçambique)
Madeira Júnior (Brasil)
Luanda Cozetti (Brasil)
não podia deixar de ser interessante e variado. Surpreendente a versão de Menina estás à janela, uma fusão de hip pop com música popular portuguesa. Luanda Cozetti esteve muito bem, pois claro. Festiva a versão de Venham mais cinco com todos os músicos e cantores em palco. Lamenta-se apenas que não tenha sido possível o encore que o público pedia, devido à realização de um espectáculo de fogo de artifício. Com um pouco de boa vontade por parte da organização, teria dado para tudo.

07 junho 2007

Dois em um, uma contribuição de serviço público
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Entre os vários grupos de interesses que se reunem em torno da OTA contam-se otistas optimistas, hoteleiros e alguns otários, já que os últimos, é sabido, se têm disseminado por todos os sectores públicos e privados. Eu, que não pertenço a qualquer deles, acho que a discussão tem sido frutífera e tem contribuído para a familiarização do povo português com as línguas estrangeiras, ou não fosse um aeroporto, também, uma espécie de plataforma ( 'tá bem, 'tá bem, interface ) linguística. Depois de algum inglês técnico que aqui me dispenso de reproduzir, aprendemos o jamais ( pronunciar jámé e repetir em voz alta ) e, hoje, o peanuts.
Lamenta-se apenas que Mário Lino tenha perdido o ensejo de nos ensinar uma palavra nova, noutra língua, quando declarou não haver ninguém a sul do Tejo. As possibilidades eram muitas, mas bastaria um nadie, um niemand ou um nessuno, para obter um belo efeito e prestar um bom serviço público. Além disso, soa bem:
-Não há nessuno a sul do Tejo.
-Não há niemand a sul do Tejo.
-Não há nadie a sul do Tejo.
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Há oportunidades que, uma vez perdidas, não sabemos se se voltarão a repetir. É pena.

06 junho 2007

A CASA DO HORROR (III)

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Nem todos os pormenores foram divulgados. Ignoro, por exemplo, como três homens cujas idades rondam os cinquenta anos se conheceram e juntaram para a concretização do plano. Sei, por outro lado, que um agente infiltrado impediu a consumação do horror. Os factos relevantes contam-se em poucas palavras:
Três homens planeiam raptar, num país vizinho, uma menina de cerca de nove anos. Atravessariam de novo a fronteira e passariam o fim-de-semana numa casa onde a torturariam e violariam. Usariam máscaras e filmariam as sevícias praticadas. O filme destinar-se-ia a circular no universo pedófilo e voyeur. Para terminar marcariam a menina com um ferro em forma de S e libertá-la-iam. Feito isto regressariam à sua vida de pacatos cidadãos. Um deles, casado e pai de filhos, agradeceu à polícia tê-lo preso antes que os acontecimentos tivessem lugar, confessou-se aliviado e declarou ter sido tomado por uma vontade que não conseguia controlar. A sua família, em cuja casa foi encontrado o ferro em forma de S, manifestou-se incrédula. Trata-se, segundo eles, de um homem adorável.

05 junho 2007

CI

Haverá, talvez, mais marés do que marinheiros. Mas há mais marinheiros mortos do que marés vivas.


CII

Não tentes, na rua, dobrar uma esquina. Isso pode trazer muitos incómodos e destruição.


do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

04 junho 2007

Os aforismos estão certos. Eu é que não os compreendo!
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Os meus filhos, após passagens meteóricas por outros desportos, fixaram-se momentânente (?) no hóquei em patins. Com isso, vi-me confrontado com um fenómeno que desconhecia em absoluto: o do desporto infantil e juvenil, organizado em torno de pequenos clubes locais e regionais com competições entre si, uma lufa-lufa de deslocações, apoios, ajudas e empenho por parte dos pais e dirigentes, horas passadas em pavilhões desportivos, dezenas de milhar de pessoas envolvidas em iniciativas deste cariz por todo o país, semana a semana.
Vem isto a propósito do despropósito. Quero dizer: já assisti algumas vezes a cenas de pais que, descontentes com decisões dos árbitros, por exemplo, em jogos onde as idades dos "atletas" rondam os oito, nove, dez anos, partem para o insulto e para o enxovalho sem estribeiras. Exemplos?
-Palhaço, ladrão!
-...
-És um palhaço, cabrão de merda, filho da puta...
O homem, pai de um pequeno jogador, continuou a beijocar o árbitro com afagos deste género. O outro, intitulado juiz, desvia os olhos do campo, vira-se para o público, encara o carinhoso pai e dispara com igual afecto:
-'Tou-te a marcar, quando isto acabar parto-te os cornos.
---
Outro exemplo, noutro jogo, noutra terra, noutro pavilhão, de um pai extremoso para o árbitro:
-Devias era levar com um patim que te abrisse a cabeça, ó seu caralho!
---
Desporto, sabem? Desporto infantil, para a educação, o crescimento e a cidadania. Mente sã em corpo são, como, de resto, toda a gente afirma. Deve haver alguma subtileza que me escapa.

01 junho 2007

Entra-se no edifício que foi a sede do Banco Nacional Ultramarino (BNU)
em Lagos.

Percorre-se a sala do rés-do-chão onde estão expostas obras de outros artistas. Observam-se essas obras. Sobe-se ao primeiro piso. Desfruta-se. Feito isso, desce-se uma escadaria que conduz à cave do edifício.

Aí, depara-se com algumas grades metálicas e a porta blindada de um cofre-forte.
É o coração do banco, o sítio mais inacessível. Adivinha-se a presença de algo no seu interior.Entra-se.


Existem duas salas dentro da casa-forte. Uma contém a instalação Arquive-se de Jorge Rocha.
A outra contém os meus Sarcófagos Secretos de Leonardo da Vinci.
Gosto do sítio. Parece-me adequado para guardar sarcófagos que, ainda por cima, se chamam secretos.
Para ver na MALA .

30 maio 2007

Blog com Tomates



O Afinador, tal como 78,6% da população portuguesa, recebeu esta simpática nomeação. Neste caso foi via Deixar Viver. Ora, não sendo costume desta oficina entrar em concursos durante as horas de expediente, decidiu abrir uma excepção e fazer uma interpretação literal das nomeações.
Blogues com tomates? Aqui vão...

O FOGÃO DO KUKA

ARDEU A PADARIA

COLHER DE PAU

AS RECEITAS DA LÍGIA

O AVENTAL DO GOURMET

Aproveito para enviar os meus parabéns a todos estes bloggers. Vivam os tomates, a salsa, os coentros, os rabanetes, o azeite virgem e a patanisca. Brindemos.

Serge Gainsbourg - "L Anamour" para duas amigas

Querem saber quem são as duas amigas? Leiam o post que se segue.

Serge Gainsbourg - "L Anamour" para duas amigas

Eu tinha que vos agradecer isto e isto. Acontece que o Afinador também desafina e, em vez de um agradecimento alegre e festivo, lembrou-se desta música. Porquê? Porque é poesia e sei que gostarão. O Sérgio Godinho, já agora, tem uma belíssima versão ao vivo de L'anamour no álbum Rivolitz. Infelizmente não a encontrei no You Tube.

29 maio 2007

A CASA DO HORROR (II)

É, de novo, um caso verídico. Aconteceu numa pequena cidade de um grande país. A polícia organizou uma demonstração de como deve a população reagir em caso de sequestro dentro de um autocarro. Alguns polícias faziam de sequestradores, populares faziam de utentes, os restantes polícias faziam de si próprios. O exercício iniciou-se e uma metralhadora começou a disparar balas verdadeiras. Escrevo enquanto os factos estão ainda por apurar. Sabe-se que morreu um rapazinho de treze anos e que dez pessoas ficaram feridas. Irresponsávelmente alguém se esqueceu de trocar as munições mortíferas por munições apropriadas.
O horror, às vezes, é-nos servido pelos nossos putativos salvadores. Na realidade, tal como ficção.

28 maio 2007

XCIX

Não bebas as palavras do texto. Prefere um copo de água.


C

Sem.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

25 maio 2007


A segunda edição da Mala-Mostra de Artistas de Lagos inaugura amanhã, entre as 21h30 e as 24h00, e encerra a 21 de Julho.
Inclui trabalhos de 53 artistas visuais, alguns eventos musicais e estará patente no
Centro Cultural de Lagos, Museu Municipal e antigo edifício do BNU.
O convite é alargado a todos os interessados.

23 maio 2007

LIBERDADE DE EXPRESSÃO (II)
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Após ter publicado o post que se pode ler imediatamente abaixo deste, li nos jornais que, em vez de uma anedota, terão sido proferidos insultos envolvendo, designadamente, a mãe do primeiro ministro. Supondo-se que a senhora, alegadamente, não governa, o Afinador não pode deixar de afirmar publicamente que não confunde o anedotário nacional com o insultuário nacional. Assim, o texto que se segue vale apenas para o primeiro caso.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
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O senhor primeiro ministro é muito bom primeiro ministro. O senhor primeiro ministro é imaculado. Este governo não comete erros, antes pelo contrário. O governo anterior, esse sim, errava todos os dias e o primeiro ministro anterior não era muito bom primeiro ministro. As anedotas sobre o senhor primeiro ministro são possíveis desde que não tenham piada. As piadas sobre o senhor primeiro ministro são possíveis desde que beneficiem a imagem do governo. O governo actual é nosso amigo.
Como aqui se vê, a liberdade de expressão existe, não temo ser suspenso por aquilo que acabei de escrever.
Já esse senhor ( é melhor não dizer quem ) que disse uma anedota sobre o outro senhor ( é mais seguro não escrever qual ) não respeitou o espírito que preside à liberdade de expressão. O respeitinho, alguém tinha que lho fazer notar, é muito bonito.

22 maio 2007

Uma catadupa de Bons Princípios

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Eis que, de repente, começaram Bons Princípios a jorrar. Como diz a MRF , venham mais cinco. Trancrevo-vos o princípio de cada novo Bom Princípio. Depois podem lê-los na íntegra aqui.
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LII
A paisagem parecia ser imutável. As ondas iam e vinham da mesma maneira tranquila e quase silenciosa do passado. O sol era, quando entrava lentamente no mar, do mesmo laranja intenso e quase perfeito. O areal permanecia tão denso e suave como quando de mãos dadas caminhavam descalças a sorrir e a amar a vida. Parecia tudo igual. Tudo tão terno e eterno.
João Francisco
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LIII
Do que ele tinha medo era do poço das palavras dela. Não queria escutá-la por muito tempo por isso replicava e contrapunha, percebendo que precisava do confronto para não lhe dar espaço. Sabia que ganhava nos argumentos, treinados desde o berço ou desde a definição dos genes. Habituou-se, pois, a ficar à tona, mas temia-lhe a dimensão do olhar mesmo em silêncio.
*
LIV
Disse-lho depois do sexo. Disse-lhe enquanto o mirava no espelho grande quando se afastou até à porta do quarto, nua. Memorizou-lhe as costas curvadas em harmónio os pés enclavinhados no tapete a testa luzidia apoiada nos nós dos dedos, adivinhando-lhe os tremores e nada mais que isso.
*
LV
Há tanto tempo que vivia com o gato que deixara de lhe dar a importância da vida. Sabia que aquele aglomerado de massa e energia respirava, mas não se dava conta dos seus movimentos calculistas nem dos seus instintos felinos. Alimentava-o da mesma forma que todas as noites girava duas vezes a chave para trancar bem a porta de casa por dentro, ou que desligava e ligava a televisão.
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Obrigado a todos e venham mais cinco ( de uma assentada ou um a um)

19 maio 2007




Um escultor para o fim de semana
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Jean Dubuffet
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Foi sobretudo como pintor que se afirmou este senhor, inventor do conceito Arte Bruta, mas são as suas esculturas que melhor permanecem. Morreu em 1982. Para quem se confronta com o seu trabalho monumental, é quase como se estivesse vivo.

17 maio 2007

A CASA DO HORROR (I)

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Gosto de histórias, sempre gostei, tenho inventado algumas. Uma boa história tem, todos sabemos, um lado violento, angústia e sofrimento, confrontação com a morte, com o horror e com a infâmia.
A barbárie, a selvajaria e a estupefacção são ingredientes que um escritor, por exemplo, dificilmente descarta. Mas a ficção, no que toca à natureza humana, nunca se mediu com a realidade, nunca um romance foi mais violento do que a vida, nenhum horror ficcionado suplantou um horror já vivido.
A Casa do Horror relata casos acontecidos e relatados nos jornais. Nenhum nome, nenhum país, nenhuma raça serão mencionados. Nenhum julgamento, nenhuma condescendência. Como se fosse apenas uma tentativa impessoal de inventariar o incompreensível.
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Um homem assalta uma bomba de gasolina. Não lhe oferecem resistência e o assalto é bem sucedido. O ladrão abandona o local, dá uns passos no exterior e volta atrás. Aproxima-se da empregada, uma mulher grávida, dá-lhe um tiro na barriga e sai de novo.

16 maio 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (IVAMARLE)

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A Ivamarle foi a primeira pessoa a responder ao repto do Divas & Contrabaixos e do Afinador de Sinos e já publicou o seu Bom Princípio, para fecharmos com glória o nosso Livro.
Eis o texto que publicou no Vive e Deixa Viver:
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"De repente estacou, ao aperceber-se que caminhava como quem tem pressa. Que disparate, pressa de quê ou para quê? Nem os seus dias tinham pressa, passavam devagar e pausadamente; ele sempre achou que destoava do resto da multidão, precisamente pela calma dos seus passos.Pensava: “estes passos não são meus, não sei onde me levam, ou sequer se quero lá chegar...”, enquanto olhava um qualquer jardim, sentado na solidão das manhãs que o acordavam cedo.Tinha de sair logo mal acordava, daquelas quatro paredes que o atrofiavam e continuava a caminhar aqueles passos que não eram seus, a olhar aqueles rostos anónimos e a pensar nas vidas de cada um, como seriam? Seriam donos dos seus passos?No prédio já o apelidavam de fantasma, pois nunca ninguém o via, saía de madrugada e entrava depois das duas; interrogavam-se se sofreria de insónias. Mas não, a única coisa que o incomodava, eram mesmo aqueles passos que teimavam em ser dados e por vezes lhe mostravam coisas que não queria ver, ou sítios onde não queria ir."
...

Adore...Should we ?

Para ouvir alto e com a melhor qualidade de som possível.Mr. Prince Roger Nelson

15 maio 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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A MRF meteu-se nos copos ( não, não é uma indiscrição, a Maria revela-o aos três mil quinhentos e trinta e sete leitores do Divas & Contrabaixos, não há razão para que os dois - incluindo eu - leitores do Afinador, não o saibam, :) ) e avançou com um convite. Vejam o Divas e aceitem o repto que vos é lançado. Eu, pelo meu lado, já tinha convidado a Ivamarle a apresentar o seu Bom Princípio no "Vive e deixa viver" e tinha-lhe pedido que desafiasse quatro bloggers da sua preferência para que fizessem o mesmo.
Ivamarle, põe a tua máquina a funcionar e publiquem os vossos Bons Princípios. Vive, deixa viver, mas chateia-os um bocadinho. O Livro dos Bons Princípios agradece.

14 maio 2007

Contradição II
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Acabei de ouvir uma outra contradição, também curiosa, na Antena Um. Um tal Miguel Guedes jurou a pés juntos que a selecção portuguesa de futebol está, segundo ele, carente de portugalidade. Carente de portugalidade? A seleção de Portugal? As bandeiras, os cachecóis, as pinturas faciais, a turba, os jogadores?
Eu sei o que quer o homem dizer nas entrelinhas... Se fosse um francês a falar assim chamavam-lhe xenófobo. Um português a falar assim é o quê? Adepto?
Jornalismo de sargeta?
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A edição de hoje (em papel) do Diário de Notícias tem uma contradição curiosa. Vasco Pulido Valente, em entrevista, afirma a páginas tantas que em Portugal não existe jornalismo de sargeta e justifica-o a seu modo.
Por outro lado, Barra da Costa, com honras de capa, declara saber por "pessoa que sabe" que os pais da menina desaparecida no Algarve se dedicam à pratica do swing entre casais e que deviam ser investigados como tal dadas as características "patológicas" que tal facto acarreta. Provas? Julgamento? Dados concretos? Nada, apenas o suposto conhecimento de uma pessoa que sabe. Pode não ser jornalismo de sargeta. Mas anda perto.
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( Já a polícia deve, é claro, investigar todas as pistas possíveis, incluindo esta. Não pode é fazer alarde disso antes de poder provar a conexão entre uma coisa e outra )

12 maio 2007

Um escultor para o fim de semana


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A pintura espanhola atingiu o seu apogeu no sec. XX com artistas tão importantes como Picasso, Gris, Miro, Dali, Tapies, etc. Na escultura foram também espanhois alguns nomes incontornáveis, de que Chilida, Oteiza e Juan Muñoz, são alguns exemplos.

Juan Muñoz, escultor desaparecido aos quarenta e oito anos, afirmou-se nos finais do século e teve uma carreira meteórica. Muñoz, numa época que priveligiava outro tipo de expressões, recuperou o corpo e a figura humanas como tema central do seu trabalho. O Jardim da Cordoaria, no Porto, possui uma das sua obras emblemáticas "treze a rir uns dos outros". É o nosso escultor para este fim de semana.

10 maio 2007

XCVII

Adquire qualidades de camaleão. Aprende a recolher a língua.



XCVIII

Viaja no tempo. Compra um talhão no cemitério.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

08 maio 2007



Já aqui falei sobre o excelente programa de António Barreto chamado Portugal, um retrato social. Hoje foi emitido o último retrato da série. Neste, Barreto faz uma síntese e tira as suas conclusões. Imperdível.

07 maio 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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Quando, em Novembro de 2006, iniciámos O Livro dos Bons Princípios decidimos basear-nos no seguinte pressuposto:
"Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto, demorando o tempo que entender."
A partir deste enunciado começámos, a MRF, a Inominável e eu, a sugerir ao "leitor-autor" um Bom Princípio semanal em cada um dos nossos blogues. A dada altura perdemos o nome da Inominável e a regra passou a ser dois princípos por semana, no Afinador de Sinos e no Divas & Contrabaixos.
Passaram-se, entretanto, seis meses e cinquenta Bons Princípios e decidimos dar fim ao Livro, porque há sempre um dia em que até o Livro dos Bons Princípios inexoravelmente termina. Mas, para que o final não seja demasiado abrupto para nós, achámos por bem convidar dez blogguers que nos ofereçam os últimos textos e ajudem a encerrar com pompa e alguma circunstância.
Durante esta semana, aqui e no Divas & Contrabaixos, haverá novidades sobre esta iniciativa.
Alguém faz ideia de quem serão os convidados?

06 maio 2007

dia da mãe

MÃES HÁ MUITAS...
*
*
... A NOSSA É QUE É
SÓ UMA

04 maio 2007

Um escultor para o fim de semana

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CONSTANTIN BRANCUSI

a coluna infinita
Nascido em 1876, Constantin Brancusi veio a tornar-se um dos escultores mais importantes do sec. XX. Considerado um dos pais da abstracção e do minimalismo, a obra de Brancusi reflecte também o seu interesse pela arte primitiva.
Constantin Brancusi é um dos escultores que mais me influenciou, pelo menos num sentido:
com ele aprendi a cultivar a simplicidade de processos e a manter essa mesma simplicidade na própria obra. A palavra de ordem é keep it simple.

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03 maio 2007

fotografia pinhole (II)

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a caixa fotográfica do Jorge Pereira
(que está de costas)
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e as dos meus filhos,
feitas por eles,
com um bocadinho de ajuda por parte dos "adultos"

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02 maio 2007

Francisco Castelo






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Um amigo enviou-me uma fotografia minha que o Francisco colocou no seu site. Além dessa, encontrei os meus filhos fotografados por ele.
Francisco Castelo é uma espécie de "fotógrafo oficial" de Lagos e tem-se dedicado a registar aspectos marcantes da cidade. Um abraço para ele.
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Já agora, e a propósito de fotografia, o último domigo de Abril é, todos os anos,
o dia mundial de fotografia pinhole.
Sobre este tipo de fotografia o Google disponibiliza muita informação.

30 abril 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (L)

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Olga sorri para mim na fotografia que está sobre a secretária, junto ao computador, pisca-me o olho na sala de estar, no velho aparador que foi da sua avó, volta a sorrir-me dentro de uma moldura que ela própria fez e colocou em cima da minha mesa de cabeceira, no nosso quarto.
Olhar para ela faz-me sofrer, mas algo em mim me obriga a fazê-lo constantemente, não sei se algum dia ganharei coragem para afastar estas fotografias da minha vista, se elas alguma vez deixarão de me doer.
Recordo cada momento dos últimos dias - estávamos tão contentes, a alegria dela contagiava-me. Olga encontrara finalmente um produtor para o seu primeiro filme, a primeira longa-metragem a sério. Empenhara-se tanto! Vinha de uma reunião com a equipa de produção, estacionara o carro em frente à nossa casa, do lado oposto da rua. Ao atravessá-la foi colhida por um carro vermelho que vinha a grande velocidade. Olga foi projectada pelo ar, eu estava em casa e ouvi um grito, senti o ruído surdo da colisão. Espreitei pela janela e vi o corpo imóvel de Olga junto ao passeio. Corri como um louco em direcção a ela. O condutor não parou. Olga, a minha adorada Olga, não se mexia. Percebi logo que estava morta.
Olga olha para mim e sorri-me sobre a secretária, junto ao computador. O seu sorriso mata-me por dentro e eu choro com pena de mim, dos nossos sonhos desfeitos, dos filhos que planeávamos e que nunca teremos. Depois olho eu para ela e prometo-lhe, pela milésima vez, que não arrumarei as fotografias, ainda que o seu sorriso continue a matar-me por dentro, enquanto não encontrar o condutor do carro vermelho.
...
continua a ser escrito aqui às segundas-feiras
pela mão de Maria do Rosário Fardilha

24 abril 2007

Couple Coffee - Conversa de Botequim [ videoclip ]

Simplicidade, talento e bom-gosto. Até parece fácil...

XCV

A morte, quando não tem trabalho, inventa. Há mortos que morrem muitas vezes.


XCVI

Repara como a vida fervilha. É por isso que se evapora.
do Caderno de Pensamntos do Sr. Anacleto da Cruz

23 abril 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XLVIII)

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Envelhece-se, com alguma sorte, envelhece-se. José Nascimento resignava-se com a gota, com o reumatismo, com a falta de ar, com a dor pemanente no peito.
A velhice terá certamente algumas vantagens, mas Nascimento não se conseguia lembrar de nenhuma. Habituara-se a lidar com as coisas, aprendera técnicas para compensar o inexorável esvair da virilidade, conseguia, por vezes, aplacar o medo e o terror nocturno, ignorava certos sinais com que o corpo o desafiava.
O pior de tudo era a má-disposição. Dava por si sempre mal-disposto, rezingava, resmungava por tudo por nada, tornara-se, lentamente, de forma quase imperceptível, o oposto do homem alegre que recordava ter sido.
Houvera um momento da sua vida que matara a alegria, ou esta fora-se consumindo até não restar traço nem centelha, até sobrar apenas amargura e cepticismo? Merda, repetia para si próprio, merda, merda, merda.
...
*
para ler no Dia Mundial do Livro
e para continuar amanhã no

20 abril 2007

"Retratos de Animais"
de Svjetlan Junakovic
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Estão em marcha as inscrições
para a ilustrarte 2007
Bienal Internacional de Ilustracão para a Infância.
Todas as informações neste lugar.
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Um escultor para o fim de semana:


Antony Gormley Podem encontrar imagens aqui ,

visitar o site oficial,
ou visitar esta peça no Parque das Nações
em Lisboa

18 abril 2007

O rato pariu uma montanha!
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Depois de assistir à conferência de imprensa promovida pela Universidade Independente cheguei a uma conclusão definitiva: demita-se o país!
Ou talvez não valha a pena, pois um país que tem instituições universitárias e professores do ensino superior deste calibre já se demitiu há muito de si próprio. Nesse caso, declare-se Reserva Integral do Planeta e interdite-se ao género humano.
Assim, sempre haveria alguma esperança...
XCIII

Se fores comido pelo tigre, passas a usar a sua pele.



XCIV

Imagina um animal que não exista. Foi o que o mundo fez contigo.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

17 abril 2007

Portugal, um retrato social
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Acabei de ver o quarto excelente retrato de Portugal por António Barreto. Faltam três. E, porque retrata um país composto por muitos países, vou continuar a ver, às terças-feiras, na RTP1.
Quem não viu os anteriores pode encontrá-los aqui.
Armas de fogo
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Um estudante entra numa universidade, mata trinta e dois alunos e fere outros vinte e um. A grandeza dos números deixa-me perplexo e não sei o que pensar sobre isto, não consigo perceber as motivações, nem a persistência, nem o desprezo por tantas vidas tão jovens. Sei que não podemos encarar estas coisas com naturalidade, como se de um fait-divers se tratasse.
Em Portugal, segundo dados divulgados a semana passada, a violência com recurso a armas de fogo tem aumentado.
Eu proponho um raciocínio simples (que, obviamente, não explica tudo): Uma simples pistola, tratada com cuidado relativo, mantém-se funcional durante décadas. Todos os dias a indústria mundial de armamento produz milhares de "simples pistolas" que duram, cada uma delas, décadas. O arsenal planetário de "simples pistolas" e etc. não cessa de aumentar. A continuar assim chegará o dia em teremos mais cidadãos armados do que cidadãos, por exemplo, bem nutridos. Acho que não podemos encarar estas coisas com naturalidade.

16 abril 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XLVI)

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Para o Luigi
- Nome?
- Z., Joseph.
- Idade?
- Quarenta e seis.
- Ora, cá está. O senhor não sabia que todos os cidadãos são obrigados a apresentar-se perante esta comissão no ano em que completam quarenta e cinco de idade?
- Escapou-se-me... desculpe.
- Desculpo? Escapou-se-lhe? O senhor pensa que pode ignorar os fundamentos da nossa organização social apenas com um pedido de desculpas?
- Quer dizer, eu não pensei que fosse assim tão grave...
- Não pensou que fosse grave... O senhor não se apresentou perante a Comissão de Verificação de Idoneidade Existencial e acha que não é grave? Esse facto, para começar, não abona em favor da sua Idoneidade Existencial. O senhor sabe o que a nossa sociedade faz aos relapsos, aos indigentes, aos improdutivos, aos objectores de consciência, aos independentes?
- Afasta-os.
-Exactamente, afasta-os. E o senhor, na verificação anterior, quando completou vinte e cinco anos, passou com alguma benevolência por parte desta Comissão. Apesar disso não parece ter-se esforçado o suficiente para permanecer entre os cidadãos reconhecidos como tal.
- Mas eu...
- Não me interrompa. Tenho aqui o seu processo, está aqui tudo, a sua vida, digamos, minuto a minuto. Aviso-o desde já que o senhor está a um passo muito pequeno de passar a dispensável. A forma como decorrer este exame pode, ainda que eu duvide, fazer com que prossiga entre nós.
Vamos lá a ver... para começar a sua conta bancária é demasiado baixa e você consome muito pouco. Pode explicar as razões?
...
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Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.
*
continua amanhã no

13 abril 2007

JP Simoes- Inquietação @ Fnac Chiado

JP SIMÕES
Terceiro retrato: Duo

JP Simoes- 1970 (retrato) @ Fnac Chiado

JP SIMÕES
Terceiro retrato: Duo

JP Simoes- Micamo @ Fnac Chiado

JP SIMÕES
Terceiro retrato: Duo

12 abril 2007

Quinteto Tati-

JP SIMÕES
Segundo retrato: Quinteto Tati

BELLE CHASE HOTEL - FOSSANOVA

JP SIMÕES
Primeiro retrato: Belle Chase Hotel

BELLE CHASE HOTEL - SUNSET BOULEVARD

JP SIMÕES
Primeiro retrato: Belle Chase Hotel

11 abril 2007

Desconhecia a existência de uma Bienal de Pintura de Pequeno Formato em Portugal. Mas existe e vai já na terceira edição. É organizada pela Câmara Municipal da Moita e pela Junta de Freguesia de Alhos Vedros.
Cada autor pode concorrer com dois trabalhos, que não podem ultrapassar os 33 cm x 24 cm, e o prazo de candidatura termina já no dia 16 deste mês.
Os interessados podem pedir informações para:
Prémio de Pintura de Pequeno Formato Joaquim Afonso Madeira
932214015
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XCI

Sê tão fiel como o fiel da balança. Oscila de um lado para o outro.



XCII

Não uses o pirilampo para iluminar o teu caminho. Compra uma lanterna.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz